Lula contra-ataca Ciro
De amigos inseparáveis a inimigos ferrenhos, bastou alguns discursos acalorados e uma investigação de corrupção. A guerra de palavras entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes, tem mais que uma simples discordância administrativa e política; ela traz uma luta pelo poder que envolve estratégias de destruição como motor de sobrevivência.
Ciro tem investido nisso desde o escândalo da Petrobrás apresentado pela operação “Lava Jato”, que acabou levando Lula para a cadeia. Se livrar das chagas do PT de Lula passou a ser uma obsessão de Ciro para tentar chegar à presidência da República. Ciro: “Vou pra cima de lula, maior corrupto da história brasileira”.
Mas, a anulação dos processos contra Lula – nos casos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia – e uma provável candidatura a presidente deu força ao ex-presidente que trabalha um contra-ataque a Ciro no seu coração eleitoral, o Ceará. Lula: “Ciro acha que é professor de Deus”.
Eunício é “plano A” de Lula
A reaproximação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) com o ex-senador Eunício Oliveira tem uma estratégia clara: desarticular o ex-ministro e presidenciável Ciro Gomes (PDT). Lula quer derrotar Ciro em seu principal colégio eleitoral, o Ceará. Para isso, monta com Eunício uma aliança, verticalizada, entre PT e MDB. Lula e Eunício, se reuniram por duas vezes, dias 4 e 18 de maio.
O “plano A” dessa articulação é Eunício governador e Camilo Santana senador, o que impõe imensas dificuldades políticas para o governador, junto ao grupo político dos irmãos Ciro e Cid Gomes, ao qual faz parte. Nessa estratégia Camilo deixaria o governo a seis meses do termino do seu governo e, provavelmente, deixaria a base política de Cid e Ciro.
A aliança PT/MDB no Ceará
A aliança MDB/PT forçaria Camilo a tomar uma decisão: ficar no PT e seguir Lula ou migrar para o PDT e reafirmar sua fidelidade aos irmão Cid e Ciro. A outra possibilidade seria uma filiação ao PSB, que está sob seu controle no Ceará, e que lhe daria mais liberdade para qualquer posição na eleição.
Caso permaneça no PT, dificilmente Camilo terá o apoio de Ciro e Cid; que não abrirão mão da cabeça de chapa estadual e da candidatura de Ciro à presidente. Ciro já disse: vai enfrentar Lula e Bolsonaro nas urnas. Mas, para Camilo resta ainda uma outra alternativa que é se manter neutro, terminar o seu governo e apostar na vitória de Lula para se tornar ministro e voltar à disputa de senador em 2028.
Camilo quer palanque duplo
Camilo rompe com Cid e Ciro para permanecer no PT de Lula? Apesar da encruzilhada, há quem acredite que Camilo conseguirá montar palanque duplo, como em 2018, quando ficou dividido entre Ciro e Hadad. Uma coisa é certa: se Eunício não for candidato ao governo, o PT assumirá o protagonismo, provavelmente, com uma indicação do MDB na vice; e esse é o principal obstáculo para a montagem do palanque duplo, sonhado por Camilo.
Nesse cenário, Eunício seria candidato a deputado federal se colocando como puxador de votos no Ceará para fortalecer a bancada do partido na Câmara. De quebra, caso Lula seja eleito presidente, Eunício ganharia a presidência da Câmara dos Deputados. Nesse “plano B”, Eunício abriria mão da disputa ao Senado para não confrontar Camilo.
O “plano B” e o PSDB
No Ceará tem muita gente de olho nesse “plano B”, que deixa bem saneado caminho daqueles que estão sem perspectiva de reeleição em suas siglas, como o deputado federal petista José Airton Cirilo, que já sentou com Eunício e recebeu convite para se filiar ao MDB. Em jogo sua manutenção na Câmara Federal.
Para completar a estratégia, Lula tem incentivado, através da cúpula nacional do PSDB, a candidatura de Tasso Jereissati a presidente. A candidatura do tucano cearense, seria o golpe de misericórdia nas pretensões de Ciro no Ceará. No segundo turno, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), já avisou, se não houver nome do PSDB, vota em Lula.