O estopim da crise
No dia 30 de março, durante evento em Fortaleza, o secretário Nacional de Segurança Pública, general Guilherme Theofhilo, anunciou pela primeira vez que o Estado do Ceará ficaria fora do Plano Nacional de Enfrentamento aos Crimes Violentos. Sem mais detalhes, Theofhilo disse apenas que faltou empenho do Governo do Estado.
No dia seguinte, 1º de abril, após receber o Título de Cidadão Fortalezense, Guilherme Theofhilo, foi indagado novamente sobre o assunto e disparou críticas ao secretário de Segurança do Estado, André Costa, e ao governador Camilo Santana (PT). Ele qualificou André Costa de ingrato e inexperiente; e o governador Camilo de não demonstrar qualquer interesse.
O projeto seria implantado no município de Maracanaú, região Metropolitana de Fortaleza, onde seriam investidos cerca de R$ 50 milhões. O projeto foi apresentado no dia 12 de março, quando o secretário-adjunto da Secretaria Nacional de Segurança, Brigadeiro Riomar, veio ao Ceará para apresentar o projeto à cúpula da Segurança no Estado.
Ao saber das acusações, o secretário André Costa, rebateu Theofhilo dizendo que ele mentiu ao falar que o Ceará não apoiaria o projeto do ministro da Justiça, Sergio Moro. André chegou a dizer que o projeto tinha cunho político e que Maracanaú foi escolhida porque é governada pela oposição ao Governo do Estado.
Em resposta ao secretário do Estado, general Theofhilo disse que “ele (André Costa) é um menino e tem muito a aprender ainda”. No mesmo dia das críticas, o estado voltou a registrar ataques de facções em Fortaleza, Pacatuba e Maracanaú, cidade que seria contemplada com o projeto.
Quem fez o enfretamento
Apesar de poucos deputados compondo a base de oposição ao governo Camilo Santana, a reação a perda dos recursos para enfrentamento da violência, surpreendeu na Assembleia Legislativa. Apenas a deputada Fernanda Pessoa (PSDB) e o deputado Heitor Ferrer (SD), tocaram no assunto.
Fernanda chegou a pedir a saída do líder do governo, deputado Júlio César, o Julinho (PPS), do cargo. Durante o discurso a deputada pediu respeito e honra ao povo de Maracanaú. O discurso, aconteceu depois que o deputado Julinho atribuiu a culpa da exclusão do projeto ao General Theophilo. Ele levantou suspeitas sobre uma condução “política”.
No dia seguinte, Heitor Ferrer lamentou a exclusão, reafirmando a falta de apoio do Governo do Estado por questões políticas. “É injustificável se utilizar de uma picuinha e não pensar no número de pessoas mortas diariamente neste estado, que é o segundo que mais mata no país,” disse.
Subindo o tom, o deputado federal Roberto Pessoa foi ao ataque e acusou o governador de ser “incompetente, mesquinho e pequeno”. “O que fez é um crime; desprezar um projeto que ia salvar muitas vidas,” disparou em entrevista ao programa Ceará News, da rádio Plus FM.
No mesmo ritmo das críticas, o deputado federal Capitão Wagner, usou a tribuna da Câmara dos Deputados para dizer que iria cobrar uma resposta do governo e levantou a suspeição de que o governo abrigaria em seus quadros pessoas ligadas ao narcotráfico.
A reação do Governo
Passados alguns, o governador Camilo Santana resolveu rebater as acusações do general Theofhilo. No dia 9, em uma Live pelo Facebook, Camilo desmentiu a afirmação do general. De acordo com Camilo, é mentira do general quando fala sobre a falta de apoio na escolha de Maracanaú para cidade modelo.
Camilo, garantiu que jamais foi oficiado sobre detalhes do projeto e como seria a participação do Governo. O governador citou ações do Governo do Estado para Maracanaú como a retomada do saneamento básico, orçado em mais de R$ 70 milhões.
Apesar da subida de tom do Governo, antes, no dia 03, o secretário André Costa, procurou o secretário Guilherme Theophilo, para pedir desculpas. André tentou reverter decisão que excluiu Maracanaú, mas já era tarde. O encontro aconteceu na Feira Internacional de Segurança LAAD – Defense & Security 2019, no Rio de Janeiro.
Theophilo conversou com André, mas antecipou que a atitude dele prejudicou Ceará e não há mais como consertar o erro. Apesar da negativa, o secretário nacional garantiu que incluirá o Ceará em outros projetos do Governo Federal. O encontro foi no stand do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Para onde foi o projeto
A recusa do Ceará em receber o projeto de combate a violência, levou o governo federal a substituir o município cearense pelo município de Paulista no vizinho estado de Pernambuco. O projeto, orçado em R$ 200 milhões, será implantado em apenas cinco municípios no país.
Se implanta em Maracanaú, o projeto iria possibilitar a instalação de duas escolas militares, a criação de uma Guarda Mirim com 800 alunos da rede pública, entre outras medidas visando a prevenção à violência.
Sobre a implantação do projeto, Roberto Pessoa disse ter articulado professores para as duas escolas militares e que já havia recebido apoio das igrejas católica e evangélica. “Todas engajadas no projeto para tirar a infância e a juventude da rota da criminalidade,” disse.
Quem deveria estar na briga
Com a instalação da crise entre oposicionistas e governistas na Assembleia Legislativa, esperava-se que mais deputados engrossassem a lista dos críticos ao caso de Maracanaú. A espera decepcionou com o silêncio de, pelo menos, nove parlamentares do Estado.
Na Assembleia Legislativa, foi sentida a falta de posicionamento de nomes como André Fernandes (PSL), Vitor Valim (Pros), Nelinho Freitas (PSDB), Soldado Noélio (Pros) e Renato Rozendo (Psol). Na esfera federal se esquivaram das críticas os deputados Heitor Freire (PSL) e Vaidon Oliveira (Pros), além dos senadores Eduardo Girão, eleito pelo Pros, e Tasso Jereissati (PSDB).
O silêncio dos três significa que as mudança a configuração da oposição estão em curso. Nomes como Nelinho Freitas e Tasso Jereissati, já são esperados do lado governista.
(Esta reportagem foi composta por informações pesquisadas nos sites cn7, Revista Ceará e Diário do Nordeste)